Restos.
Temos hobbies, gostos, musicais, artes, filmes, jogos, passatempos, esportes.
Nos mostramos ser, na vida pessoal, nas redes, no trabalho, na família, com os amigos.
Mas quem somos, realmente?
Quando apagamos a luz do quarto no final do dia, o que sobra de nós?
E o que sobra, te satisfaz?
Condiz com todas as suas versões mostradas diariamente em todos os âmbitos da vida?
Quando temos um dia difícil em que nada mais parece fazer sentido, o que sobra de todas as convicções sobre ser e pertencer?
Quem realmente está ali, te fortalecendo a ser o que você acha e quer ser?
Quem sabe das suas lágrimas e o motivo mais profundo delas?
Quem, a não ser você, sabe te ler, uma palavra sua, um desenho, uma música, a forma de rir, a forma de responder?
Para precisar ser, é necessário ter alguém que reconheça quem você realmente é?
E caso não exista esse alguém, você ainda sente que é o que acha que é ou tudo cai por terra e você acaba um grande emaranhado de sentimentos, pensamentos e vazio?
Talvez a luta para ter companhia na vida, seja realmente por sobrevivência, não sobre a perpetuação da espécie, mas sim sobre impulsionar a não desacreditar no que realmente somos e acabar num vazio sem fim.
Hoje ao apagar a luz, senti o nada, senti que ao chorar ninguém sabia que eu chorava, muito menos o porque. Cheguei a um ponto de vazio que não consigo mais tentar levar essa necessidade a alguém, e entendo que seja muito mais difícil ter alguém próximo o suficiente que saiba perceber o que acontece aqui, nesse quarto escuro.
E ao sobrar um nada, de mim, da minha vida, dos planos, é viver arriscando sobre não querer continuar, sobre deixar o cansaço ganhar. É sobre me esforçar tanto pra ser o que acho que eu sou que no final tudo parece não chegar nem perto de ser eu.
Hoje eu sou o nada, carrego no peito ausências, que me roubam de ser e ter algo e sobra somente uma imensidão escura.
Sendo o nada, como posso procurar algo em que eu não tenho nada para dar em troca? Todos queremos receber, se já não tenho nada, sinto que não existe a mínima possibilidade de ter troca com alguém.
No final, sempre serei um vazio, em uma conversa, em um plano, em uma multidão ou a dois. Não terei o que oferecer e por isso compreensivelmente descartável.
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